Entrevista com o Professor Arlindo Oliveira

08/10/2025

Inteligência Artificial - a "Revolução"

A Inteligência Artificial tem sido muito falada, mas é também cercada de mitos. Que ideias gostaria de desmistificar?

Neste momento, a ideia de que vamos ter aqui uma revolução instantânea e que, eventualmente, criará muito desemprego ou alterações muito profundas.

O potencial da inteligência artificial para uma alteração profunda é grande, mas também estou convencido de que não vai acontecer muito rapidamente, porque as instituições e as empresas têm de se adaptar, temos de alterar processos, temos de alterar culturas, temos de alterar pessoas e, portanto, acho que vai ser uma alteração profunda, mas que não vai acontecer de maneira muito rápida, pelo contrário, vai demorar muitos anos, eventualmente várias décadas, até sermos capazes de empregar completamente o potencial da inteligência artificial e isso tem a vantagem de nos dar tempo a todos, sociedade, pessoas, empresas, para nos adaptarmos a essa alteração.

 

Tendo em conta a evolução da IA, que futuro podemos antever para o setor do retalho, nesta matéria?

No setor do retalho, vamos assistir, com certeza, a uma progressiva personalização. Obviamente, o comércio eletrónico vai continuar a crescer, é uma tendência que já se nota muito mais nos Estados Unidos e, naturalmente, na Europa também continuará a notar-se. Isso vai levantar desafios às superfícies de distribuição, também aos serviços de entrega e, portanto, acho que vai haver aqui um desafio, de continuarmos a manter a distribuição, os centros comerciais, as lojas públicas atrativas para as pessoas e tentarmos, provavelmente, ter um caminho um bocadinho alternativo ao que vemos nos Estados Unidos, onde em muitos sítios, principalmente nas grandes cidades, os centros comerciais estão a fechar por causa do comércio eletrónico, das entregas ao domicílio, etc, Eu gostaria de continuar a ver Portugal e a Europa com centros de cidades vivas, com centros comerciais, lojas, ruas vivas e temos de ter um esforço grande de adaptação na personalização da oferta para concorrer com o conforto do comércio eletrónico.

 

Que competências essenciais as empresas devem adquirir, em concreto no setor dos centros comerciais, de forma a acompanharem a rápida evolução da Inteligência Artificial?

As componentes da analítica são muito importantes. Tem de haver boa análise dos padrões de compra, dos padrões de frequência dos centros comerciais, de como é que as pessoas se deslocam no centro comercial. Penso que ainda temos muito trabalho a fazer aí, na componente da analítica, para tornar as disposições, os serviços, etc., o mais agradável possível, por um lado, e depois penso que, também do ponto de vista dos serviços de apoio, temos de desenvolver o mais possível a produtividade das pessoas. Através dessas ferramentas, as pessoas podem ser mais eficazes a responder aos clientes, a fazer relatórios, a elaborar respostas e acho que aprenderem a dominar estas ferramentas, nomeadamente os LLMs, mas também os LLMs mais sofisticados, de maneira a melhorarem a sua produtividade individual e, assim, conseguirem prestar um melhor serviço, acho que é a componente mais fundamental, além da componente da analítica, que temos de continuar a desenvolver.

Veja a Entrevista na integra aqui

Nota biográfica

Distinguished Professor do Departamento de Informática do Técnico; Presidente do INESC; Administrador não executivo da Caixa Geral de Depósitos; Investigador do INESC-ID. Licenciou-se em Engenharia Electrotécnica e de Computadores pelo Instituto Superior Técnico (IST) e doutorou-se na mesma área pela Universidade da Califórnia em Berkeley, com uma bolsa Fulbright. Foi investigador do CERN, do Electronics Research Laboratory da UC Berkeley e dos Berkeley Cadence Laboratories. Foi administrador de diversas empresas e instituições, assim como presidente do INESC-ID e da Associação Portuguesa para a Inteligência Artificial. É membro da Academia da Engenharia e membro sénior do IEEE. Foi presidente do Instituto Superior Técnico entre 2012 e 2019. Recebeu diversos prémios e distinções, entre os quais o prémio Universidade Técnica de Lisboa/Santander por excelência na investigação, em 2009.
Canal Apcc
Mais Vídeos

A APCC é associada das seguintes organizações: